A gente sabe voltar, mas se perde nas ilusões do caminho. A gente sabe transformar as dores em aprendizado, mas compromete a lição com os ranços do sofrimento. Nada é de graça e a gente sabe isso, mas esquecemos de pagar o bem com o bem, a solidariedade com o abraço, a honestidade com a decência da verdade.
A gente sabe que tudo passa, mas finge que o eterno mora ao lado e reclama quando o fim está próximo. Podemos reinventar, mas a gente possui uma preguiça acumulada que nos impede de deixar fluir o espírito criativo para sobreviver da mesmice. Sabemos ser ousados, mas o medo intenso inibe a entrada de novidades em nossa vida.
A gente sabe do bem que faz o afeto, mas vivemos no desconforto do tempo que deixa passar o essencial. A gente sabe tanto, mas salva apenas as palavras ferinas que foram ditas em momentos de despedidas.
A gente sabe sobre as borboletas, mas fazemos as pazes apenas com o asfalto, as buzinas e o escritório com mesas cheias de papéis. A gente sabe sobre o canto, mas escolhemos o barulho dos eletrônicos.
A gente sabe sobre a simplicidade e insistimos nas fórmulas complexas da felicidade.
A gente sabe o gosto do chocolate, a cor do mar, o frio do inverno, o calor do verão, o desabrochar de um novo dia. A gente ainda não sabe esperar tudo isso ao seu tempo.
A gente sabe sobre as coisas
Sabe sobre as pessoas
Sabe ser poeta nas horas vagas
A gente sabe sobre os sonhos
Um pouco sobre esperança
Um pouco mais sobre nós
Quase nada sobre fé
A gente sabe um bocado de coisas por aí
Sobre o amor sabemos de cor, só nos resta pôr em prática.
_____ Ita Portugal
