Havia um garoto. Ele
andava tranquilo pela estrada da sua vida e percorria um caminho reto, gramado,
cheio de verde e flores. Passava pelas janelas do seu trabalho, do seu papel
como amigo, como jovem pai até que um dia ele se deparou como uma bifurcação. O
caminho, antes sem opção de escolha, lhe perguntava: você quer ser feliz ou ter
razão? Essa escolha passou a ficar cada vez mais constante na sua estrada e
aparecia, na maioria das vezes, em momentos de discussões ou divergências de
opiniões com pessoas próximas.
Teimoso, o garoto escolhia ter razão. E, cada vez que conseguia ultrapassar os
obstáculos que ora eram poças d’água, ora arames e troncos, se sentia vitorioso
e orgulhoso de si mesmo que seguia triunfante pela estrada da razão.
Cego com seus desafios
e artimanhas para superar os obstáculos, o garoto não percebia que a estrada já
não tinha mais gramados, nem uma flor sequer. Os raios de sol que iluminavam
suas relações estavam cada vez mais tímidos e era cada vez mais comum um amanhecer
nublado, às vezes com garoas incômodas.
Em um dia qualquer, ele acordou cansado e, novamente, havia logo à frente uma
porta velha com galhos soltos e altos bloqueando sua passagem. Ele, sem
energia, pensou em pedir ajuda aos seus amigos e familiares mas as janelas e
portas que davam acesso à eles estavam distantes, umas 2 horas distante, no
mínimo. Nesse momento ele se deu conta de quão cinza estava sua estrada: sem
vida, sem graça. Ele tinha razão, vencia qualquer discussão e era o rei da
dialética. Mais nada.
Essa história pode ser
a de qualquer um de nós, não é mesmo? Quantas vezes não prolongamos discussões
e ‘vamos até o fim’ até sairmos vitoriosos do embate? Quantas vezes não
estragamos uma saída, um encontro ou uma programação porque algo não saiu como
gostaríamos e, então, passamos a querer explicações e justificativas
desgastantes para o ocorrido? até que
ponto vale brigar e gastar energia para defender um projeto ou opinião?
Entendo que para tudo há um limite e, para mim, esse limite é atingido quando
ele ameaça a minha paz de espírito e o meu equilíbrio de vida. Se a briga no
trabalho, ou até mesmo entre amigos, tiver que ser grande a ponto de me fazer
chegar em casa e ignorar o amor que minha família tem para mim, repenso. Se eu
preciso pontuar algo para alguém próximo e eu sei que vai impactar todo o dia
que vem pela frente, reflito.
Sei que às vezes somos levados pelo dia a dia e repensar e refletir não é algo tão simples de se fazer, porém, acho um desafio importante para escolhermos encarar. Acredito que não vale a pena colocar nossa felicidade em jogo para termos razão em todas as conversas, sejam elas entre Mario e mulher, com a namorada ou em uma mesa de bar, ou entre amigos,
Parece trivial, como se
já fizéssemos isso naturalmente, escolher a estrada de gramado verde e raio de
sol. Em um lado poético, se perguntarmos se as pessoas preferem ser felizes ou
ter razão, ouviremos um brado que é óbvio, ‘eu prefiro ser feliz’. O que
acontece é que muitas vezes isso não sai do discurso e, no primeiro
desentendimento com o namorado,ou a namorada, na primeira briga com alguém da
familia ou na primeira divergência com o chefe, ou seja em qualquer
desentendimento lá vem nosso ego cheio de razão pronto para brilhar e colocar
em prática seus discursos e conhecimento que o rarão ganhar mais ‘uma batalha’.
Essa reflexão é diária, para não dizer de hora em hora. A qualquer momento
podemos nos deparar com a bifurcação na estrada: que tenhamos sabedoria de
saber a hora de insistir em uma opinião e a hora de abrir mão da razão para
sermos felizes em uma relação e com nós mesmos. E que tudo isso aconteça antes
da estrada estar nublada – e fria demais.
E você: quer ser feliz ou ter razão?