GAROTA3.4

 
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Último juego

A interpretação do leitor

Pesquisando sobre as obras de Shakespeare, achei uns vídeos interpretando suas obras

"É que em tal cena acontece assim e assado pois ele quis dizer isso e isso"

Será que Shakespeare, depois de escrever suas tragédias contou que estava querendo dizer isso e isso? Ou isso é só uma interpretação de quem leu e quis dar sua própria palavra em cima do que ele escreveu?

Um dos que eu vi que fez isso foi Freud. Tudo bem que ele era um psicanalista, e estava analisando comportamentos ... não sei, mas... ele quer explicar atitudes em cima de obras fictícias que Shakespeare? 

Isso acontece muito quando escrevemos algo, como por exemplo um poema. Quem lê interpreta mil coisas. É até interessante, pois o que está formado na cabeça de quem escreve é bem diferente do que forma na mente de quem lê..e acho que tem a ver com o momento que a pessoa está passando. As pessoas buscam respostas para seu “EU” através do que elas escrevem, assim como aqueles que leem, pois estes também buscam suas respostas.

E tudo isso é de um fascínio estarrecedor...


Ser ou não ser, eis a questão: será mais nobre
Em nosso espírito sofrer pedras e setas
Com que a Fortuna, enfurecida, nos alveja,
Ou insurgir-nos contra um mar de provocações
E em luta pôr-lhes fim? Morrer… dormir: não mais.
Dizer que rematamos com um sono a angústia
E as mil pelejas naturais-herança do homem:
Morrer para dormir… é uma consumação
Que bem merece e desejamos com fervor.
Dormir… Talvez sonhar: eis onde surge o obstáculo:
Pois quando livres do tumulto da existência,
No repouso da morte o sonho que tenhamos
Devem fazer-nos hesitar: eis a suspeita
Que impõe tão longa vida aos nossos infortúnios.
Quem sofreria os relhos e a irrisão do mundo,
O agravo do opressor, a afronta do orgulhoso,
Toda a lancinação do mal-prezado amor,
A insolência oficial, as dilações da lei,
Os doestos que dos nulos têm de suportar
O mérito paciente, quem o sofreria,
Quando alcançasse a mais perfeita quitação
Com a ponta de um punhal? Quem levaria fardos,
Gemendo e suando sob a vida fatigante,
Se o receio de alguma coisa após a morte,
–Essa região desconhecida cujas raias
Jamais viajante algum atravessou de volta –
Não nos pusesse a voar para outros, não sabidos?
O pensamento assim nos acovarda, e assim
É que se cobre a tez normal da decisão
Com o tom pálido e enfermo da melancolia;
E desde que nos prendam tais cogitações,
Empresas de alto escopo e que bem alto planam
Desviam-se de rumo e cessam até mesmo
De se chamar ação.
(…)

William Shakespeare Monólogo de Hamlet da primeira cena do terceiro ato na peça homônima.