brutus69

 
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De uns dias pra cá, todos os meus atos são guiados por uma vontade incontrolável de te agradar.
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بوراكو

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Povo do Mato


Nas minhas férias, em andanças pelo interior de São Paulo e Minas, mais precisamente em cidades da Serra da Mantiqueira, conheci lugares pitorescos, muito agradáveis e também pessoas como o Sr. Zé Maria, um homem de uns 65 anos, romeiro, devoto fervoroso de Nossa Senhora Aparecida. Nos encontramos na Pousada da Dona Sueli que recebe centenas de romeiros a caminho de Aparecida e eventuais caminhantes e peregrinos, como eu. Estávamos eu e o Sr Zé Maria na varanda da pousada, falando sobre os caminhos que nos levaram até ali, sobre minha peregrinação solitária, sobre os perigos que eu nem conhecia do caminho, como exemplo onças. Na verdade esse assunto foi levantado por outro caboclo que estava ao nosso lado, me fugiu o nome, mas que foi prontamente refutado pelo Sr. Zé Maria dizendo - Que onça que nada, só se for essas mulheres feias por aí, parece tudo umas onças.

Passei bons momentos ouvindo as histórias do Zé Maria, como sua indignação sobre o desvio na trilha dos romeiros feito por um fazendeiro sem coração, que aumentou em duas horas e meia o trajeto até ali. Também sobre como prometeu a um político que votaria nele e para isso recebeu seu dinheiro. Com muito escárnio disse: Pergunta pra mim se eu voltei nele, corja!!

Mas teve uma observação do Zé Maria sobre um assunto que me fez refletir. Mais a frente de onde estávamos havia um grupinho de jovens romeiros, falando muito alto, gesticulando, rindo, bem divertidos. A voz de uma jovem do grupo se sobressaiu e ouvimos claramente - Esse povo do mato se contenta com pouco! E deram muitas risadas. Não sei qual foi o contexto que a frase foi proferida, mas de imediato percebi que o Zé Maria se incomodou.  Ele se virou para mim e mesmo já sabendo a resposta disse – O senhor é de São Paulo não é? Acenei positivamente com a cabeça e ele continuou  - Sobre o que a moça aí falou, o senhor me desculpe mas discordo. O seu pedido de desculpa não fez sentido e o encorajei a dizer o que pensava e ele disse: - Acho que quem se contenta com pouco é o povo da cidade, com pouco espaço para morar, pouca educação com os mais velhos, pouco tempo pra tudo, pouco respeito com as coisas, pouca paciência, com pouca vergonha na cara.

Nessa hora o Zé Maria pensou ter extrapolado e se desculpou mais uma vez pela indelicadeza. Continuou a história dizendo que morou muito tempo na cidade e que não ganhou nada morando lá, nem cultura, nem dinheiro, nem mulher. Sua vida, segundo ele, começou quando decidiu morar em Campo Belo/MG nos anos 80. Finalmente ele fez uma pausa e eu entendi que era hora de falar. Não disse muito, só pude concordar com o Sr. Zé Maria.

Todos os dias, a caminho do trabalho lembro das frases do Zé Maria, quando estou preso no transito ou no aperto do transporte público ou com a falta de educação da plebe. O verdadeiro “povo do mato” é muito mais exigente que o mais urbano dos cidadãos, pois eles exigem muita privacidade, muito respeito e muita qualidade de vida, e conseguem isso sem precisarem de muito dinheiro.

Ouçamos o “povo do mato”.